segunda-feira, 9 de novembro de 2015

CHORANDO SEM LÁGRIMAS

O CHORO SEM LÁGRIMA.

Os olhos estão secos.  Estão tristes e as feições no rosto macambúzio demonstra que algo ruim está acontecendo.
Pedro eleva os olhos para o céu, e um azul imenso e quase que infinito, se perdendo nos horizontes quando ele gira sobre si mesmo, é o que se lhes aparece, e ele chora. Chora mesmo. Chora muito diante daquela bela imagem que lhe é descortinada, mas é um choro diferente, um choro contido, um choro sem lágrimas.
O peito arfa e a pele esturricada pelo sol se contrai enquanto fecha os olhos de onde as lágrimas teimam em rolar, mas não saem pois há muito deixaram de existir.
Ossadas de gado espalhadas pelo quintal onde um juazeiro sobrevive, é o que resta.
Em algum lugar estão também os ossos de Corisco, o seu outrora belo cavalo alazão. E os de Bento, o cão vira latas que morreu uivando, de fome e de sede. Morte dolorida para ambos os animais: o bicho irracional e o homem.
O gato Monguá, ainda sobrevive. Esquálido que nem ele só, mas está vivo apenas por um motivo: é um ladrão contumaz, e rouba alimentos e água até mesmo de onde não existe. É uma peste esse Monguá.
Um redemoinho eleva do solo uma poeira quente e o bafo de calor lhe explode no rosto, deixando a sua cara com um jeito mais estranho ainda, numa mistura maior da dor, tristeza e choro contido.
Ele chora. O choro vem de dentro do peito, fica preso na garganta e sai como um urro de um animal ferido pela boca que se escancara, mas nada de lágrimas. Nada de lágrimas.
Onde estão suas lágrimas? O que houve com as suas bolsas lacrimais que ele nem sabe que existem?
Secaram. Secaram como secaram o cacimbão, o poço, o Barreiro e o Açude durante tantos anos altaneiro.
Já não há lágrimas.
Já não há água em seu corpo seco, e a língua incha dentro da boca, enquanto a mente sonha com o mais doce dos lenimentos para aquele momento de dor: a água.
É a seca.
É a seca que vai matando gado, cobras e largatos, e agora ameaça matar gente.
A sabiá já não canta. O rouxinol, o canário da terra, o galo de campina e até a peste de pardais desapareceram como fumaça ao vento.
Nem a acauã apresenta mais o seu canto triste que anuncia a morte.
É a seca, e a seca mata. E mata a todos.
É a seca. A seca provocada pela falta de chuva, e a inexistência de nuvens nos céus lhes trazem a mensagem verdadeira e triste que a dor vai aumentar, pois não vai chover. Não vai chover. Não vai chover...
Não há alento nem esperança, pois o céu já não fala mais com ele através dos sinais que lhes eram tão comuns.
O dia de São José mais uma vez passou, e nada de chuva. Três anos e nem um chuvisco pra animar o calango que resiste na terra tórrida e cheia de pedregulhos que ferem os pés do matuto.
E ele chora.
O choro do sertanejo, o choro sem lágrimas.
Sem lágrimas poio o poço de lágrimas também secou.
E parece que secou para sempre. Ou até a morte, quem sabe? Pois até as carpideiras já não se fazem mais necessário. Perderam seus empregos. E também agora choram nas suas cozinhas diante das panelas vazias, e choram também o choro sem lágrimas. Elas se tornaram crias e vítimas da seca.
Triste é a sina daquele que depende da água aonde não tem água.
É o Sertao Nordestino morrendo, e morrendo de sede.
E não adianta as águas do São Franscico, pois se não chover, o Tio Chico também secará, e ficará sem lágrimas.
É a seca.
E Deus?...?...?
Onde está Deus na história deste matuto pecador?
É apenas a oração.

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