segunda-feira, 14 de abril de 2014

O verbo PASSEAR está morrendo. Eu peço somente a paz. Eu lembro com saudade do tempo em que no mundo havia paz. Houve uma grande guerra. Houve outra grande guerra, mas no mundo havia paz. Eu quero apenas ter o direito de passear. Alguém lembra como era gostoso passear? A juventude dos dias de hoje sabe o que é passear? As nossas noites e madrugada não eram sinônimos de medo, mas de algo gostoso, pois podíamos desfrutar das noites estreladas e, nas noites de lua, fazermos serenatas ao luar. Como andar pelas ruas e becos com um violão a falar ou cantará versos de amor nos dias de hoje? Como esperar vermos a nossa amada esperando debruçada na janela? Hoje, as portas e janelas são feitas de grades, e o conceito "debruçar na janela" está nos estertores da morte. Eu sonho com crianças brincando no quintal. Alguém lembra dos quintais? A juventude de hoje sabe o que é um quintal? Eu oro para que os meus futuros netos possam nadar na praia e esquecer seus pertences sobre a areia sabendo que, quando voltarem, eles ainda estarão lá. Eu lembro, com saudade das brigas de ruas onde a troca de socos era o mais grave. Aqui e ali perdíamos um dente ou tomávamos cinco pontos na testa. E só! Ah! Que saudade do tempo em que o ladrão mais perigoso da cidade foi preso por ter roubado três galinhas do quintal de seu João. " Bandido safado e perigoso! " Era o que o povo dizia. Mas ele foi punido. Saiu da delegacia com a cabeça raspada para que todo mundo o pudesse identificar como ladrão. Saudade dos assustadas, onde a paquera era livre e não havia brigas. Saudade dos finais de tarde nas praças (havia praças) onde dávamos uma volta indo e outra voltando. Que saudade! Eu peço paz! Eu quero paz! Eu sonho com a paz. Saudade, que saudade, do tempo em que os corpos eram belos e a única marca era a da vacina contra a varíola, e a tatuagem era prática dos poucos marginais que iam para os presídios. Sim. E não havia rebeliões nem fugas em massa. Tudo era tranqüilidade. Saudade do tempo em que os drogados eram isolados da sociedade e fumavam a sua maconha (droga "perigosa", segundo a tradição usada por ladrões que sopravam a fumaça por baixo da porta para que dormíssemos e eles pudessem roubar livremente as galinhas, rádios de pilha ou coisa similar). Saudade do tempo em que não éramos dependentes do aparelho celular. Saudade do tempo em que um chá da folha do maracujá era o calmante para todas as angústias ( principalmente quando o namoro acabava ). Que saudade! E eu choro. Choro porque não sou Deus e satanás tem colado no coração do homem e a maldade tem tomado conta do mundo. Choro. Choro, porque não posso trazer de volta o meu tempo de sonhos, e os meus filhos estão vivendo num inferno que se parece com vida. Mas a vida não é esta violência em que vivemos. Isto não é vida. E eu trocaria todos os avanços tecnológicos, todo o conforto de camas projetadas, ar condicionado no escritório e nos quartos com SPAs, a minha piscina de 8,5 X 4,00 pelo simples direito de PASSEAR novamente em paz. Eu só quero isto: que a paz volte e o medo, o verdadeiro terror em que vivemos seja derrotado, e que o verbo PASSEAR não morra. É o meu pedido. E ponto.

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